Marcha das Vadias 2012

Marcha das Vadias: ousadia e irreverência na luta pelo respeito às mulheres

Pelo segundo ano, acontece em Belo Horizonte a Marcha das Vadias, um manifesto pacífico e bem humorado que expõe a violência contra as mulheres.
Está agendada para o dia 26 de maio a segunda edição da Marcha das Vadias, em Belo Horizonte.
Este ano, o evento que já teve diferentes versões em inúmeras cidades do mundo acontecerá em várias cidades brasileiras num mesmo período, entre 26 de maio e 02 de junho.
O movimento teve origem em Toronto, no Canadá quando um policial aconselhou às mulheres que evitassem se vestir como “vadias” a fim de evitar a violência sexual. A infeliz declaração motivou um grupo de feministas a saírem às ruas vestidas como “vadias”, com o propósito de chamar a atenção da sociedade para a lógica presente na declaração do policial: a de culpar a vítima pela agressão sofrida.
Para a atriz DéboraVieira, uma das articuladoras da Marcha das Vadias em Belo Horizonte, “diferentemente do que acontece com os homens, mulheres usando roupas curtas estão mais vulneráveis ao assédio, um condicionamento sócio-cultural que se manifesta não apenas nas ruas, mas também na estrutura de nossas instituições. É comum que policiais, advogados ou até mesmo juízes façam referência às roupas que uma mulher costuma usar para justificar a atitude de um agressor.” Segundo ela, trata-se de um comportamento aparentemente inofensivo, mas que se apresenta como um reflexo de uma lógica distorcida que prefere julgar a vítima, e não o agressor.

Adriana Torres
, voluntária do Movimento Nossa BH e uma das participantes da Marcha, aponta como fator crucial para a quebra desses paradigmas a aceitação do machismo presente na sociedade: “Vivemos em um país onde poucos assumem ou reconhecem a cultura machista que nos orienta diariamente. Para muitos, uma mulher é “estuprável” por conta de sua conduta, em vez de perceberem que a cultura patriarcal é que cria possíveis estupradores. Isso é inaceitável!”.Para muitas participantes, a Marcha coloca em pauta diversas questões importantes à luta pelo respeito às mulheres, ao levantar a bandeira do direito ao próprio corpo, ao livre exercício da sexualidade e à desconstrução de estigmas culturalmente construídos e disseminados, como por exemplo a classificação que o senso comum alimenta ao dividir as mulheres entre santas (as “moças de família”, dignas de respeito e aptas ao casamento) e as putas (as “vadias”, mulheres que não seriam “bem comportadas”, por isso, não mereceriam ser respeitadas). Para Renata Oliveira Lima, Delegada de Polícia Civil, também articuladora da Marcha, essa dicotomia interfere muito no comportamento de vítimas de crimes sexuais. Segundo ela, a taxa de subnotificação nesses casos é a maior dentre todos os tipos de crime, uma vez que a vítima sabe que a partir do momento em que fizer a denúncia, sua conduta será alvo de todo tipo de julgamentos, e que virão à tona eventos de seu passado que sequer têm relação com o crime de que foi vítima. Assim, por não se sentir digna de respeito e proteção, muitas vezes a vítima se sente culpada, e busca, de forma inconsciente, justificar a atitude do agressor – que na maioria das vezes é alguém próximo, de sua confiança.
Buscando ampliar as parcerias que contribuíram para a ampla repercussão do evento no ano passado, as articuladoras da marcha voltaram a contactar integrantes de diversos grupos de discussão sobre questões de gênero, representantes das prostitutas de Belo Horizonte, além de representantes do poder público.
A expectativa é que o numero de presentes na marcha supere o do ano passado, que foi de cerca de 500 pessoas. Para aderir á Marcha não é obrigatório o uso de roupas curtas. Homens e mulheres estão convidados, e devem se vestir da forma como se sentirem mais confortáveis. “A ideia é justamente esta: que as pessoas sejam livres para vestir o que bem entenderem”, lembra Débora.
ATIVISMO E PERFORMATIVIDADE
Entre as ações já confirmadas está uma intervenção do Núcleo de Criação Arte e Ativismo Político doGrupoEspanca!, juntamente com o Coletivo Paisagens Poéticas e vários outros artistas da cidade. A iniciativa vai se unir à Marcha com ações performáticas.
Para a artista e ativista Renata Cabral, integrante do Núcleo de Criação Arte e Ativismo Político e do Coletivo Paisagens Poéticas, a adesão à Marcha das Vadias se justifica pela legitimidade das reivindicações feministas:  “nossos corpos marginais lutam pela igualdade quando os direitos são negados e pela diversidade quando a padronização nos oprime”, declara.


Serviço
Concentração: 26 de maio, 13.00h, na Praça da Rodoviária.
Saída às 14:00h em direção à Praça da Estação, passando pela Rua Guaicurus. Da Praça da Estação, a marcha sobe a rua da Bahia em direção à Praça da Liberdade.
Informações para imprensa, contatos para entrevistas e fotos em alta resolução: favor entrar em contato através do email [email protected]
terapia sexual
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Rodrigo Torres

Psicólogo e Sexólogo, Máster em Sexologia Clínica, Saúde Sexual e Especialista em Terapia Sexual. Coord. Instituto Ibero-americano de Sexologia no Brasil, Del. Estadual Sbrash em Minas Gerais com mais de 15 anos de experiência.

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