Entrevista concedia para uma revista que está chegando ao mercado em Abril – Ativa Idade – voltada para o público acima de 60 anos. A revista vai abordar diversos temas como saúde, comportamento, cultura, consumo, turismo etc.
Sexo após os 60 anos
Rodrigo Torres – Psicólogo e Sexologista Online – Máster em Sexologia Clínica e Saúde Sexual pela Universidade de Barcelona – Trabalha com terapia de casal e sexual no atendimento à disfunções sexuais e educação sexual. Membro da SBRASH – Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana
1- Quais as principais mudanças que ocorrem no comportamento sexual de homens e mulheres com o passar dos anos e com a chegada à Terceira Idade?
A maioria das pessoas acreditam que o sexo acaba na 3ª idade, porém isso é um mito que deveria cair por terra. A vivencia de sexualidade vai muito além da relação sexual com penetração. O sexo é só um pequeno pedaço de toda a vivencia da sexualidade e cada dia mais pessoas tem percebido a importância de se manter ativo na busca pelo prazer mesmo depois da menopausa e andropausa.
2- Devido a alguns fatores ( dificuldade de ereção, diminuição da lubrificação vaginal, ejaculação retardada) alguns casais perdem o interesse pelo sexo com o passar dos anos, certo? Como lidar com isso?
Não diria que perdem interesse, mas param de buscar prazer que pode ir além do coito, diminuindo ainda mais sua autoestima. O ideal seria que as pessoas enxergassem essa fase como mais uma mudança que a vida nos traz e buscassem alternativas para continuar sentindo prazer (caricias, massagens, atividades físicas moderadas, intimidade emocional e até mesmo estimulação genital direta, mas sem expectativa de chegar em algum lugar ou ter uma ereção e um orgasmo, apenas para sentir prazer.
3- Em sua opinião, qual a importância do sexo para a maturidade e a velhice?
Como dito anteriormente o sexo é só uma parte da vivencia da sexualidade e acho que esta última é que nos traz a completude que buscamos com o sexo. O prazer sim é importante para qualquer fase de nossas vidas e nos mantém ativos, saudáveis, felizes e autoconfiantes e na maturidade e velhice não é diferente.
4- O senhor acredita que alguns idosos descobrem novas formas de prazer ( passear, viajar, namorar) e substituem pelo sexo? Há possibilidade de um casal viver bem, mesmo sem sexo?
Acredito sim que existem pessoas que substituem o prazer sexual por outras formas de prazer, mas isso não quer dizer que não possuem prazer sexual. A canalização da energia está focada em outras formas de prazer, mas se estimuladas essas pessoas podem sentir prazer sexual sim.
5- Após os 60 anos é comum que muitas pessoas percam seus parceiros, ou se divorciam, ou ficam viúvas. Como lidar com o afeto e a sexualidade nesses casos? Da maneira mais natural possível. Se excluíssemos alguns mitos e preconceitos, poderíamos viver muito melhor. Existem pessoas que nessa fase de perdas, conseguem se reerguer e continuar a vida, muitas vezes formando novas relações. Outras se fecham e não estão abertas sequer a sentir prazer sozinhas. O ideal é manter a autoestima em forma cuidando primeiramente de si mesmo para depois se relacionar afetivamente e sexualmente novamente.
6- Em sua opinião, quem tem mais problemas com a sexualidade com a idade “avançada”, homens ou mulheres? E quem lida melhor com as transformações fisiológicas e adapta-se melhor às mudanças?
Acredito que as mulheres aceitam melhor as mudanças. Muitos homens se frustram muito com a perda da ereção e a impossibilidade de se relacionar com penetração por acreditarem que seu poder e sua honra estão no pênis. As mulheres geralmente realizam reposição hormonal para prevenção de doenças e para cuidar da saúde e acabam recebendo em troca a possibilidade de vivenciar o prazer de formas diferentes.
7- Sinta-se à vontade para complementar o que achar que deve.
Acredito que as pessoas deveriam falar mais sobre esse assunto e parabenizo a revista por tal abordagem. Ainda é um dos maiores mitos da sexualidade dizer que a partir de certa idade não se pode mais viver a sexualidade. Que se perde o prazer sexual. Na realidade tais pessoas estão perdendo a saúde, pois sexo é saúde e o que deveríamos era buscar novas formas de viver a sexualidade com prazer.
8- O senhor faz terapia sexual? Se sim, não poderia nos indicar algum paciente para dar um depoimento de como o relacionamento melhorou após buscar uma ajuda profissional? Eles não precisam se identificar. Podemos colocar nomes fictícios.
Na realidade tive muito poucos pacientes com mais de 60 anos. Essas pessoas não buscam ajuda por simplesmente acharem tal mudança natural e desistirem de sentir prazer. São pessoas que geralmente sofrem muito no inicio mas acabam aceitando tal frustração.